O vídeo do saleiro no Tik Tok e a viralidade insuportável de ser

Entre, entre, fique à vontade. Vou contar uma história de amizade, intriga, sexo… Bah, sexo, o que se chama sexo, não tem, mas o editor me disse que eu deveria tentar te fisgar desde o primeiro parágrafo, então vocês não digam nada e continuem lendo.

O que minha história tem hoje é sal. Muito sal.

Vamos começar pelo começo.

Eu tenho realizado um ritual por anos. Todos os sábados de manhã jogo tênis com o mesmo grupo. Comecei um dia quando faltava um, me convidaram por um amigo em comum, e eu fiquei. Tive sorte porque assim, quase do nada, passei a fazer parte de uma linda banda que, sem maiores pretensões do que passar uma bolinha de um lado da rede para o outro (convenhamos que raramente conseguimos), forma um irmandade do anel chamada MAGIAsigla que significa: “Modelo argentino de amizade em grupo incondicional”.

Desde aquele dia, os sábados são a rotina de estacionar no clube, pegar a bolsa, trancar o carro, voltar para o carro porque esqueci a garrafa de água, trancar o carro, voltar para o carro porque esqueci o telefone, trancar o carro, cumprimentar a banda com alguma piada repetida, enfrentar o tribunal primeiro porque estou ansioso e não é uma coisa que minha vida vá embora, esperar (que tortura) Raúl, alma e organizador, nos designar um sócio e quadra, jogar uma hora e meia para não cometer duplas faltas, desviar do backhand porque é inapresentável, não ir para a rede porque sou bilhete, usar o drive como único e abençoado golpe, perder mais que ganhar, voltar atrás para o refeitório, estender a conversa sobre o quão ruim nós jogamos…

Pode lhe interessar: Memórias de Luciano

 

Tênis, a desculpa que pode unir um grupo de amigos (Foto: Maximiliano Luna)

claro que tem no terceiro tempo, é onde o MAGIA faz a diferença. Como o grupo recebe empresários e empresários de todos os tipos, engenheiros, médicos, advogados, feirantes, vendedores de grãos, músicos e atores amadores, pilotos de avião, escritores, sempre alguém tem um tema interessante para discutir, uma anedota para contar. E, acima de tudo, MAGIA é um ouvido maravilhoso para ouvir quando alguém tem um problema e um grande cérebro coletivo para pensar em soluções. É por isso que os amo tanto.

De vez em quando, os membros do MAGIA fazem um churrasco, sempre há uma desculpa. Desta vez foi a chegada em Buenos Aires de “O preto”, o professor de tênis em torno do qual o grupo se formou e hoje tem seu clube no Uruguai. Como era esperado um calor daqueles que assustaria um canguru no Aberto da Austrália, resolvemos terceirizar. Sem maiores objeções, a reserva foi feita no La Rana da Avenida Alvarez Thomas e lá chegamos ao meio-dia, mortos de suor e fome, prontos para engasgar com bolinhos de espinafre, batata provençal, miudezas sem triquinose, tiras, vazios e pudins. .

Antes do evento que nos une (se eles ainda estão lá, se eles saíram eu digo sexo e eles voltam, sabe), aconteceu uma coisa engraçada, vou te contar. A garota, uma garota de vinte e poucos anos muito simpática e muito boa em sua tarefa, anotou nosso pedido. MAGIC, gente legal, procurou não complicar com nenhuma extravagância, até que, a certa altura, Claudio (fã de El Bicho, um cara de gostos estranhos), pergunta se poderiam preparar uma salada para ele em vez de batatas fritas. Houve alguns gestos de desaprovação, comentários sobre não ser chato, mas o homem não entendeu e quando a simpática garçonete perguntou sobre os ingredientes, ele escorregou “e, digamos, tomate, cebola, radicheta …”. A menina, quase sem levantar a caneta do caderninho, respondeu bem frouxamente que tomate e cebola sim, mas que eu podia oferecer alface verde, porque não tinha radichota (pega a mão, corretor, deixa essa chota aí , porque a menina disse isso, ra di cho ta). Imaginem os gritos, as gargalhadas vulgares… Voaram os comentários: “não se preocupem, se não houver não tragam!” Estarão a pensar, hoje, sábado às 13h30, com esta calor, esse suor e essa radicheta…” Eles queriam sexo, certo? Bem lá eles tinham.

 

Os pós-refeições somam minutos de conversa e também podem trazer uma surpresa

E assim, entre chotas e chotas, o almoço passou. Já para o café, Jorge pediu a palavra. Nascido em Morteros, Córdoba, uma mistura maravilhosa de um menino da aldeia, um engenheiro de sucesso e um feiticeiro tribal. Todos sabemos que quando alguns falam, os outros devem ouvir, e isso acontece com Jorge. Ele pediu para falar, ficamos calados, ele pegou um saleiro, virou e começou a contar que todos eles tem sulcos embaixo, e que se passar alguma coisa em cima deles, o sal cai perfeitamente. Confesso a vocês, queridos leitores (se estiverem aí, se saírem, eu coloco sexo nisso) que naquele momento senti algo. Deve ser que vibrei no fundo do meu ser (cuidado, isso pode ser sexo) um alerta de possível viralidade. Por isso, sem preguiça nem preguiça, peguei o celular e Eu pedi para ele repetir tudo como está, que ele queria filmar. Ele conseguiu, a gente riu porque ficou um pouco pior do que da primeira vez, e pronto. Alguns minutos depois, cada um de nós foi para casa, mas não sem antes dar os cumprimentos à moça da chota.

Vários dias depois, uma tarde de folga do trabalho (ah, que cara ocupado), encontrei o vídeo, legendei e carreguei no tik tok. Sim, para o Tik Tok. Eu posso ser um merda velho, mas eu uso com frequência. Por motivos profissionais, mas principalmente porque minha filha Lola me bombardeia com vídeos de cachorrinhos e pilotos de Fórmula 1. A questão é que Não demorou mais de dez minutos para começar a adicionar milhares de visualizações e receber centenas de comentários como “Não acredito que vivi minha vida inteira sem saber disso”, “esse homem é um gênio, dê a ele o país agora”, “mentira, meu saleiro não tem isso” e todo tipo de interação, algum outro convite para sair para beber, o de sempre nas redes.

 

O vídeo de Jorge logo se tornou viral

No momento em que escrevo estas linhas, o vídeo conta com mais de dois milhões e meio de visualizações e é divulgado por portais do Peru, Colômbia e México. Alguns me perguntam onde estava o segredo. Eu respondo. Primeiro, eu não sei. Em segundo lugar, a França. Fazendo o papel de analista, acho que o algoritmo do TikTok, aquele animal artificial que decide o que nos mostra e o que não mostra, viu algo que poderia ser interessante porque cumpriu aquela velha premissa de que eu estava falando Stevenson e recuperado Borges: Todos nós gostamos de ser revelado um segredoTodos nós amamos ouvir uma história. Todos nós nos tornamos crianças se alguém começa com “era uma vez”. E aí, a mídia levantando, porque não está mais sozinha na hora de criar conteúdo, mas tem a gente, celular na mão, pronto para mostrar a nossa vida.

Fiquei sério, saiba como se desculpar. Licença que eu me permito porque eles chegaram aqui, claro. Em contrapartida, deixo-vos algumas dicas.

Esta noite, quando sair para jantar no bodegón do bairro, veja se o saleiro tem uns sulcos no fundo. Se a resposta for sim, tudo bem. Caso contrário, faça silêncio piedoso, que boas histórias devem ser cuidadas.

Se você tem um grupo de amigos como o MAGIA, obrigado. Caso contrário, aprenda a jogar tênis ruim. Capazes eles são dados.

E por último, mas não menos importante: peça a salada de radicheta. A vida é uma só.

Os quero muito.

Continuar lendo

Mariano Pensotti e o futuro: “Como vamos nos narrar daqui a 30 anos?”
“Mãos nos bolsos”, o novo Jaime Arracó Montoliu
A literatura argentina do século XXI passa do antagonismo à generosidade